El Niño deve ter o efeito mais devastador em duas décadas

Histriônico, corpanzil à mostra, o humorista Chris Farley, estrela do programa Saturday Night Live, criou um dos esquetes mais falados de 1997, ano em que um fenômeno da natureza virou assunto de mesa de bar. “Todas as tempestades tropicais devem curvar-se diante do El Niño. Juro por Deus que o El Niño está vindo pegar vocês”, esbravejava. O tempo apagou a graça do personagem, mas o antigo sucesso, disponível no YouTube, ajuda a entender o impacto de uma alteração climática, batizada por pescadores do Peru e do Equador para lembrar o Menino (Niño) Jesus, em virtude de correntes marítimas quentes e inesperadas que despontavam próximo ao Natal.

Consequência do aquecimento brusco das águas do Pacífico tropical, o El Niño é um evento comum. Ocorre em intervalos que variam de dois a sete anos. Em 1997, ele mostrou toda a sua força ao elevar a temperatura das águas do Pacífico em até 5 graus. O resultado foi uma montanha-russa na pressão atmosférica, com mudanças bruscas na intensidade e no rumo dos ventos. Houve secas onde era para chover e tempestades onde devia apenas chuviscar. O ano seguinte, 1998, filho do El Niño, foi o mais quente desde o início das modernas medições. Os Estados Unidos presenciaram o período mais chuvoso em 104 anos e o norte do Brasil sofreu com secas e incêndios florestais, no avesso das chuvas e enchentes do sul. Calcula-se que os efeitos globais do El Niño de 1997 tenham levado à morte 23 000 pessoas e deixado 45 bilhões de dólares de prejuízo. A notícia preocupan­te: tudo indica que, neste ano, terá início um El Niño que pode superar o de dezoito anos atrás, mesmo em suas consequências negativas.

Há duas formas principais de identificar o estabelecimento de um fenômeno desse gênero. Inicialmente, pela medição da temperatura das águas superficiais do Pacífico tropical. Se a elevação passa de 0,5 grau, configura-se um El Niño. Caso supere 1,5 grau, considera-se que ele é intenso. Hoje, o aumento está em torno de 1 grau. O El Niño chegou, porém não se estabilizou, e, pelas estimativas de climatologistas, isso só deve ocorrer quando ultrapassar os 2 graus. Há quem aposte que chegará próximo dos 3 graus. A outra forma de identificá-lo é por meio do chamado Índice de Oscilação do Sul (SOI). Trata-se de um número, neutro, positivo ou negativo, que mede a diferença da pressão atmosférica entre dois pontos da Terra, um na cidade australiana de Darwin e o outro no Taiti. Em situação normal, ambos têm a mesma pressão. Quando há um El Niño, cria-­se uma diferença negativa entre eles.

Um olhar cuidadoso sobre o clima ao longo deste ano e as previsões para 2016 demonstram que estamos na iminência de um El Niño crescido. Há similaridades evidentes entre 1997 e 2015. Além da alta possibilidade de a temperatura média do Oceano Pacífico novamente se elevar mais de 2 graus, nos dois casos a diferença apontada pelo SOI gira em torno de -15, o que evidencia uma disparidade radical entre a pressão atmosférica na Austrália e no Taiti. Por enquanto, não sentimos os efeitos mais drásticos deste El Niño, mas um comunicado da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa) alerta para o fato de que as piores consequências estão por vir. Há, segundo os especialistas, 85% de probabilidade de o fenômeno continuar ao menos até abril do ano que vem.

O El Niño deve espalhar anomalias climáticas pelo planeta. O norte do Brasil, por exemplo, pode ficar ainda mais seco, vetor para incêndios naturais em florestas. O sul deve sofrer com tempestades e inundações. “O problema é que não conseguimos prever tudo com total certeza. Um El Niño nunca é igual ao antecessor”, afirma a americana Michelle L’Heureux, meteorologista do Centro de Previsões Climáticas do Noaa. Mas existem algumas pistas para indicar a dimensão do fenômeno.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/el-ni-deve-ter-efeito-mais-devastador-duas-decadas-899001.shtml



Publicado em: 16/09/2015

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